Os Estados Unidos acusaram o Talibã de manter postos de controle ao redor do aeroporto internacional de Cabul e impedir a saída de afegãos que desejam abandonar o país. O governo americano pediu uma passagem livre no local. Milhares de pessoas estão tentando fugir do Afeganistão desde que o grupo extremista tomou a capital Cabul e voltou ao poder no domingo 15, após 20 anos, com uma ofensiva militar relâmpago de apenas 10 dias que surpreendeu o mundo. Vídeos mostram pessoas desesperadas tentando pular o muro do aeroporto internacional Hamid Karzai, algumas com a ajuda de tropas americanas. Em um deles, filmado na terça-feira 17, uma criança é entregue a soldados que estão do outro lado do muro.
Em outro, uma criança, um homem e uma mulher pendurados tentam argumentar com soldados em escadas. O governo americano expressou preocupação na quarta-feira (18) com os postos de controle para cidadãos afegãos na entrada do aeroporto e informações de assédio, apesar das promessas dos talibãs de não adotar represálias. “
Ao que parece estão impedindo a chegada ao aeroporto dos afegãos que desejam sair do país”, afirmou a subsecretária de Estado, Wendy Sherman. “Esperamos que permitam que todos os cidadãos americanos, todos os cidadãos de outros países e todos os afegãos que desejam partir o façam de forma segura e e sem assédio”, disse Sherman. O presidente Joe Biden e seus principais funcionários disseram que os EUA estão trabalhando para acelerar a evacuação, mas não prometeram quanto tempo ela vai durar ou quantas pessoas serão retiradas do Afeganistão.
Na segunda-feira 16, cenas de caos e mortes foram registradas no aeroporto, durante a tentativa desesperada de fuga de estrangeiros e afegãos do país. Milhares de pessoas invadiram a pista, e algumas tentaram entrar em aviões estacionados e se agarraram a aeronaves prestes a decolar. Vídeos mostram o que seriam pessoas caindo do céu após a decolagem de um cargueiro americano. Todos os voos foram suspensos em meio à confusão, e as tropas americanas assumiram o controle do aeroporto e passaram a organizar os voos militares de evacuação de diplomatas e civis junto a outros países.
A aviação comercial segue suspensa. Apesar do esforço do Talibã de tentar se mostrar diferente desta vez, os afegãos recordam a forma como o grupo extremista governou o país entre 1996 e 2001 e não confiam nas promessas de moderação feitas nos últimos dias. Na época, o Talibã adotou uma visão extremamente rigorosa da lei islâmica (a sharia), impondo restrições sobretudo às mulheres, que eram impedidas de trabalhar e estudar.
As visões islâmicas ultraconservadoras incluíam apedrejamentos, amputações e até execuções públicas. Afegãos que protestam em várias cidades nesta quinta, no Dia da Independência do país, têm sido reprimidos nos primeiros sinais de resistência popular à tomada do poder pelo Talibã. Há relatos de mortes em Asadabad e tiros em Cabul. Na quarta-feira 18, três pessoas morreram e 12 ficaram feridas em um protesto em Jalalabad, após talibãs atirarem contra pessoas e agredirem manifestantes.